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“Grande equívoco histórico” - Esclarecido
postado por em: 22/10/2011 19:03

A história de Além Paraíba é uma das mais ricas da região da Zona da Mata Mineira. Por nossas terras passaram Tiradentes, fomos uma das cidades mais bem desenvolvidas industrialmente, chegamos a possuir uma infinidade de fábricas, diferentes meios de transportes modernos, como o trem, o bonde elétrico. Possuiu ainda uma das mais importantes oficinas da Estrada de Ferro Leopoldina que, saindo de nossa terra, estendeu seus trilhos pelos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Ao mesmo tempo, foi terra natal ou adotada de grandes empreendedores que fizeram com que nossa cidade se desenvolvesse a passos largos, como: José Mercadante, Antônio Augusto Junqueira, Ladário de Faria, Odyr Perácio, Luiz de Souza Breves, Adão Araújo, entre outros inúmeros que ficaríamos aqui apenas relatando seus nomes.

O pesquisador Plínio Fajardo Alvin, em seu texto “A Verdadeira Idade de Além Paraíba”, publicado no Jornal Além Parahyba, edição nº 654 de 19/10/2011, questiona a data de fundação de Além Paraíba e as informações de inúmeros sites, pesquisadores, instituições e publicações a respeito da data do “aniversário” de nossa cidade. Questionar a data do aniversário de Além Paraíba deve ser observado com cuidado, pois se trata de uma interpretação do pesquisador, que apenas olhou para a letra fria da Lei, e se trata de um assunto onde a Academia e pesquisadores da área, por anos a fio, já identificaram sua diferença. Quando pesquisamos História, temos que ter alguns cuidados básicos, pois o fato relatado é comum em inúmeras cidades mineiras, talvez, quem sabe, em todos os 853 municípios. O fato histórico levantado pelo pesquisador questiona e poderia ser interpretado equivocadamente, tratando-se de um erro que precisaria ser corrigido em todo o Estado de Minas Gerais ou até mesmo no Brasil. As faculdades de História já o teriam identificado, pois dentro do Estado possuímos ótimos trabalhos a respeito da História da Região e até mesmo de Minas Gerais, e não teria passado despercebido nos mais de 800 municípios. Fazendo uma rápida pesquisa, após ter recebido o texto por e-mail, foi possível observar que em todas as cidades que passaram pelo mesmo processo de desenvolvimento territorial como Além Paraíba, também um dia desmembradas de alguma cidade maior, o referido fato se faz presente. Analisando mais profundamente o referido texto, para não cometer mais um equívoco com relação ao questionamento do dia 28 de setembro, e realizando uma pesquisa com base em cidades como Belo Horizonte, Juiz de Fora, Governador Valadares e mais 14 cidades da região – Volta Grande, Estrela Dalva, Pirapetinga, Santo Antônio do Aventureiro, Cataguases, Miraí, Leopoldina, Recreio, Chiador, Palma, Laranjal, Visconde do Rio Branco, Dona Euzébia e Mar de Espanha –, onde inclusive o Museu de História e Ciências Naturais realiza pesquisas há cinco anos sob a coordenação do historiador André Martins Borges, foi identificado que em todas elas o referido processo de criação e ou elevação foi o mesmo. As Leis citadas pelo pesquisador devem ser entendidas, isto sim, como marcos legais: “O município de São José de Além Paraíba foi criado pela Lei Provincial nº 2.678, de 30 de novembro de 1880, desmembrado do município de Mar de Espanha. Depois de decorridos quase três anos, no dia 28 de setembro de 1883, a Lei Provincial nº 3.100 elevou à categoria de ‘Cidade’ a então ‘Vila’ de São José de Além Paraíba, sede do município que fora criado em 1880.”

Conforme citação acima e após a pesquisa, observei que tal prática em nada tem de errado, pelo contrário, pois apenas quando passamos, em 30 de novembro de 1880, de ‘Vila’ (povoação de categoria superior à de aldeia ou arraial e inferior à de cidade) para ‘Cidade’ (complexo demográfico formado por importante concentração populacional, dada a atividades de caráter mercantil, industrial e cultural), em 28 de setembro de 1883 foi necessário criar todos os meios indispensáveis para que uma Vila pudesse ser, de fato e de direito, uma Cidade, com a instalação de uma Câmara de Vereadores e de uma Prefeitura. Aí sim, justifica-se a data de 28 de setembro de 1883 como data oficial do aniversário da cidade. E não o fato histórico de um dia termos pertencido ao município de Mar de Espanha, e não o fazermos mais, como marco para ser comemorado, pois o fato mais importante foi a elevação para a categoria de ‘Cidade. Esse “grande equívoco histórico” relatado pelo pesquisador pode e deve gerar discussões sadias com os inúmeros pesquisadores e historiadores da atualidade a respeito da memória histórica de nossa cidade, visto inclusive que o Museu de História e Ciências Naturais possui em seu site (http://www.museuhcnaturais.org.br) material publicado pelo primeiro historiador de nossa terra, o saudoso Octacílio Coutinho, revisado e atualizado pelo diretor e historiador André Martins Borges.

A cidade também conta com outros historiadores, e podemos citar Mauro Senra, que realiza trabalho de resgate em um blog na internet, além de vários sites com referência a nossa história, como o da Câmara Municipal e da Prefeitura Municipal, que contribuem para divulgar nossa história.

Fica a sugestão para o pesquisador que escreveu o texto: em uma próxima oportunidade, antes de divulgar informações históricas de suas pesquisas, buscar diálogo com a Academia de História, até mesmo de forma informal, com o objetivo de juntos realizarmos um belo trabalho em parceria, o que poderia assim contribuir para um real levantamento e difusão da história como ciência viva e atual que é. Produzir História e discutir fatos é um dever nosso como instituição e como historiadores, formados em História pela Academia, porém quem lê a mesma em um jornal, e-mail, site ou qualquer meio de divulgação, deve ficar atento ao que se escreve. “Divulgar e questionar datas sem um amplo trabalho de pesquisa pode acabar cair no perigo de interpretação de que ‘No início tudo eram trevas’, e aí surge o legislador, cria a lei e a partir de então passamos a ter História como cidade”. A História de uma cidade é muito mais do que o ato de criação de uma Lei. A História é viva e deve ser assim.

Fica, como sugestão para o prefeito, vereadores, autoridades e órgãos de comunicação do município, de que devemos sim “reparar um erro histórico” e aprofundarmos nossas pesquisas a respeito de nossa História, principalmente naquele que podemos identificar como fundador do primeiro núcleo urbano que se tem registrado, Padre Miguel Antônio de Paiva, que muito pouco se tem escrito a seu respeito.

 

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