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...voltarConheça a História - Além Paraíba

O início - Da descoberta até a fundação

Arquivo: Jornal Além Parahyba de 1925 – Octacílio Coutinho – Geraldo A. Rodrigues – FUNCAP

Revisto e Rescrito pelo Prof. André Martins Borges

A margem do rio Paraíba do Sul, em território da Província de Minas Gerais, coberta de densas matas fechadas, intransitável, povoadas por traiçoeiras onças pintadas e serpentes venenosas, habitada pelos índios Puris (“Os Salteadores”), ou Coroados (Croatos ou Coropós), desprezada, abandonada e quase ignorada pela Coroa em virtude da inexistência de ouro e pedras preciosas, a região onde se localiza a cidade, era chamada de "Sertões do Leste", até fins da segunda metade do século XVIII, era conhecida pelos tropeiros, que vindo da Corte, demandavam o aldeamento do Pomba e o presídio de São João Batista (Visconde do Rio Branco).

O aparecimento de ouro em Cantagalo, a fuga do Mão-de-Luva (Manoel Henrique) e o contrabando do precioso metal através do rio Paraíba do Sul, despertaram as atenções das autoridades, levando o Governador da Província de Minas Gerais, Luiz da Cunha Menezes, a despachar uma diligência, comandada pelo Sargento-Mor Pedro Afonso Galvão de São Martinho, da qual fez parte o Alferes Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes, com a finalidade de prender o facínora e instalar um registro (Posto Fiscal), visando deter o contrabando.

Partindo de São Miguel do Rio Pomba (Rio Pomba) chegou a “diligência” às nossas plagas na última semana de maio de 1784, criando os registros de “Euriceira” e “Ouriçal ou Louriçal” – proximidades de Benjamim Constant a “Porto do Cunha” hoje Porto Velho do Cunha, município do Carmo – RJ.

Entre a última semana de maio e a primeira de junho do ano de 1784, o militar dá por cumprida parte de sua missão: instala o “registro” anexo a um cais de madeira, para atracação de balsas que cruzavam o rio, a tudo denominando “Porto do Cunha” (em homenagem ao Governador da Província).

Por ordem da Corte de Lisboa, nova penetração foi realizada dois anos mais tarde, em 1786, ainda sob o comando de Pedro Afonso Galvão de São Martinho, dessa vez, com o arrasamento do “Descoberto de Macacú” com a prisão do “Mão-de-Luva e seus comparsas.

Com poucos anos as picadas abertas, passaram a caminhos de Tropas de Burros, estabelecendo um trânsito regular de viajantes e animais de carga vindos de Sapucaia - RJ, em demanda de Cantagalo – RJ, interior de Minas e vice-versa. O pouco deste ficou conhecido como Ranchos de Além Parahyba.

O advento do Ciclo do Café (1820/1890), iniciado no alto do Paraíba e serras fluminenses, promoveu e acelerou o povoamento.

Em 1812, tiveram início as doações de terras locais sem “Sesmarias” (terras abandonadas doadas a quem tivesse condições de explorá-las).

Em 1816, o Padre Miguel Antônio de Paiva torna-se o donatário da gleba onde hoje se acha a cidade e, em 05 de janeiro de 1819, benze a primeira capela: Capelinha dos Índios, que erguera próxima à foz do rio Limoeiro (Oficinas da E. F. L), sob a invocação de São José (em virtude da descoberta, por trabalhadores no rio Limoeiro, da imagem de São José de Botas).

A essa altura, a travessia de barcas, e o povoado ganhou importância e outra denominação: Porto Novo, naturalmente para não ser confundido com a outra passagem do rio situada a 20km a jusante: Porto Novo do Cunha (registro), atualmente Porto Velho do Cunha.

Em 1819, é elevada à categoria de Vila, sendo chamada então de Curato de São José d’Além Parahyba. São José nome de seu padroeiro e Parahyba nome do rio cuja a margem foi edificado.

Em março de 1825, o Curato de São José d’Além Parahyba, recebe a visita pastoral do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, o eminente Dom José Caetano da Silva Coutinho, Capelão-Mor de S. M. o Imperador, que estimula a povoação local e arredores com 2.000 almas.

A 14 de julho de 1832, o Curato é elevado à categoria de Paróquia. O regimento nº 15 de 31/05/1839, do Governador de Minas, criou várias “Recebedorias”, (repartição em que se recebe impostos) entre elas, as de Porto Novo do Cunha e Porto Velho do Cunha.

Em 1860, a produção de café no Distrito e imediações, transportada em lombo de burro, alcançava 400.000 arrobas (100.000 sacas de 60kg) aproximadamente.

Graças a intervenção do Marquês do Paraná, Senador do Império e grande produtor de café, aqui chega em 1871 a Estação e ponto terminal da Estrada de Ferro Dom Pedro II, com a inauguração e chegada do primeiro trem vindo do Rio de Janeiro em 02/08/1871. Em 1873, daqui parte a Estrada de Ferro Leopoldina com destino a Leopoldina, passando por Volta Grande. Acontecimentos que influíram decisivamente na vida da cidade e municípios vizinhos, favorecendo o desenvolvimento regional e causando favorável impressão ao Imperador Dom Pedro II.

Até 27 de abril de 1854, integrava a região ao Município de Mar de Espanha, do qual se separou passando a pertencer a Leopoldina, trocando o nome para “São José do Além Parahyba” e como tal, aparecendo no mapas da época. Em 25 de agosto de 1864 retorna à Freguesia de Mar de Espanha.

Em 30 de novembro de 1880, é sancionada a lei criadora do Município de São José de Além Parahyba.

Em abril de 1881, em passagem pela cidade a caminho de Leopoldina, o Imperador D. Pedro II, acompanhado da Imperatriz e numerosa comitiva, ficara muito impressionados com o progresso de São José d’Além Parahyba. Aqui pernoitaram na fazenda do Barão de São Geraldo e se dirigiram para Leopoldina, sendo recebidos festivamente em ambas as cidades.

Em 22 de janeiro de 1882, o município é instalado empossando seu primeiro prefeito o Coronel Joaquim Luiz de Souza Breves.

Finalmente a 28 de setembro de 1883, após sancionada a lei nº 3100, surge o desligamento de Mar de Espanha com a elevação da Vila à condição de Cidade. O nome definitivo “Além Parahyba” data do ano de 1923.

Os Imigrantes vieram para esta terra atraídos pela fazendas de café do Vale do Paraíba, nossa gente se formou graças a miscigenação entre índios, portugueses, italianos, libaneses, espanhóis, dinamarqueses, argentinos, alemães, poloneses, húngaros e negros africanos.

EMANCIPAÇÃO

A emancipação política e administrativa veio pela Lei Estadual, MG nº 2.678 de 30 de novembro de 1880, criando o município de São José de Além Parahyba, constituído dos Distritos de Santana do Pirapetinga, (Pirapetinga) e parte do território de Madre de Deus do Angu (Angustura, desligados de Leopoldina.

Devido a inúmeras dificuldades o Município só foi instalado a 22 de janeiro de 1882, e empossada a Câmara Municipal, eleito o Presidente da Câmara e Agente do Executivo o Coronel Joaquim Luiz de Souza Breves e Vice Presidente Manoel Luiz Vieira.

A 28 de setembro de 1883, a Lei Estadual MG, nº 3.100 elevou a Vila de São José d’Além Parahyba à categoria de Cidade.

Em 1891, o Município subdividia-se nos Distritos de: São José (a cidade), Angustura, Volta Grande, Água Limpa (Água Viva), Estrela Dalva, Santana de Pirapetinga, São Sebastião de Estrela, com total de 7 Distritos, assim permanecendo até 1938.

A Bandeira do Município foi criado antes do desmembramento em 1938. As estrelas brancas (menores) simbolizam os antigos Distritos: Volta Grande, Pirapetinga, Angustura, Trimonte e Água Viva, a estrela grande simboliza o distrito da Cidade. O Corpo é verde, o losango amarelo, o círculo branco, a torre amarela cortada por ramos de café e fumo.

O Decreto Estadual MG nº 148, de 17/06/1938, anexou o distrito de Aventureiro à Além Paraíba, desmembrando-o de Mar de Espanha e retirou-lhe os distritos de Pirapetinga para se constituir Município, e os de Volta Grande, Estrela Dalva, Água Viva e São Luiz para compor o novo município de Volta Grande.

Por último, a Lei Estadual MG nº 2.764, de 30 de dezembro de 1962, criou entre outros, o município de Santo Antônio do Aventureiro, composto do Distrito de Aventureiro, separando-o do nosso.

No Judiciário, a Comarca de Além Paraíba, de 3 Entrância, atendia aos municípios de Além Paraíba, Santo Antônio do Aventureiro, Volta Grande, Estrela Dalva e Pirapetinga.

A Lei Estadual nº 843, de 07/09/1923, estabeleceu a atual denominação de Além Parahyba. Com a reforma ortográfica ocorrida, a grafia ficou como Além Paraíba.

Em 25 de maio de 1990, foi promulgada a Lei Orgânica do Município de Além Paraíba e em 14 de dezembro de 1994 o Código Tributário Municipal.

PIONEIROS

Estes são os principais pioneiros que transformaram esta terra em nossa querida Além Paraíba.

· Coronel Joaquim Luiz de Souza Breves – Agricultor

· Luiz de Souza Breves – Barão de Guararema

· Dr. Francisco Salles Marques – Médico

· Dr. Joaquim Canuto de Figueiredo Júnior – Advogado

· Antônio José Herdy – Capitão de Fragata

· Capitão Vicente Mendes Ferreira –

· Adão Pereira Araújo – Comerciante e Industrial

· Dr. Paulo Joaquim da Fonseca – Médico

· Fausto Gonzaga – Professor

· Nicolau Taranto – Farmacêutico

· Jorge Elias Sahione – Comerciante

· José Mercadante – Industrial

· Capitão José Teixeira Bastos – Industrial

· Afonso Salvio – Industrial

· Dr. Antônio Augusto Junqueira – Advogado, Banqueiro e Industrial

· Dr. Joaquim José Alvares dos Santos Silva – Barão de São Geraldo - Advogado e Agricultor

· José Venâncio Augusto de Godoy – Farmacêutico e Agricultor

· Odyr Perácio – Comerciante e Industrial

· Christiano Gonçalves Filgueiras – Comerciante e Industrial

· Dr. Reinaldo Manso Monteiro Nogueira da Gama – Médico

· Dr. Nelson Hungria – Ministro do Superior Tribunal de Justiça de Minas Gerais

· Dr. Ladário de Faria – Médico e fundador do Asilo Ana Carneiro

· Coronel Oscar Teixeira de Figueiredo Côrtes – Agricultor

· Dr. Antônio Martins de Lima Castelo Branco – Médico, Agricultor e Industrial

· Manoel Pereira –

· João Rozante – Comerciante e Industrial

· José Ferreira Toledo – Pecuarista

· Binato Ricardo – Industrial

· Dr. Heitor Mendes do Nascimento – Juiz de Direito da Comarca

FATOS MARCANTES

Energia Elétrica:

No ano de 1906, Adão Pereira Araújo, instalou na cachoeira da Fazenda do Lordello, uma pequena Usina Geradora de Energia Elétrica. Até então, as ruas e casas de Além Parahyba eram iluminadas a luz de lampiões de querosene ou carboreto, cabendo aos “lobisomens” ou “fantasmas” acendê-las às 18:00hs e 03:00hs, respectivamente. A energia elétrica veio contribuir decisivamente para acelerar o progresso de Além Parahyba, com o aparecimento da 1ª Fábrica – a “Fábrica de Bebidas de Nicolau Taranto” próxima a Granja Três de Outubro.

Os Bondes:

“A partir de 1890, foi instalado uma linha de Bondes puxado a burro, saía de Porto Novo, passando pela Vila Laroca com destino a São José, vinha catando gente pelas ruas que enchiam seus bancos pagando 400 réis pelo trajeto. Na altura da Granja o cocheiro do bonde ia fazer a cobrança dos passageiros. Os burros iam puxando devagarinho o bonde pesado de passageiros. Lá eram trocados por outra parelha de burros (a Esmeralda e a Berlinda eram trocados pela Dindinha e Isolda) na volta para São José.”

Durante 14 anos os bondes elétricos rodaram pela cidade. Até que no dia 29 de agosto de 1939, sobreveio um desastre na descida do Morro do Carneiro na Vila Laroca. Não morreu ninguém a não ser o próprio morto que estava sendo levado para o cemitério.

Os Bondes elétricos foram substituídos por ônibus. Os dois primeiros foram apelidados de “Juju” e “Balangandã”, sendo o maior de cor verde e o menor de cor amarela.

As Fábricas:

Em 1912, foi fundada pelo Dr. Alfredo Martins de Lima Castelo Branco, a Fábrica de Tecidos , movimentando seus teares e abrindo o setor de trabalho para o sexo feminino.

Em 1925, inaugura-se a Fábrica de Papel Santa Maria. Empreendimento dos Srs. José Mercadante, José Bastos, Cel. Leonardo de Freitas, Dr. Antônio Augusto Junqueira e Afonso Salvio. Os anos que se seguiram, marcariam um áureo período na história de nossa industrialização.

A Cooperativa de Leite de Além Paraíba, foi fundada em 25 de maio de 1947, pelos Srs.: Manoel de Souza Santos, José Côrtes Villela, Theófilo dos Reis Junqueira e outros pecuaristas.

As principais indústrias de Além Paraíba eram: Fábrica de Bala, Móveis América, Fábrica de Ladrilho, Fábrica de Macarrão, Indústrias Binato Ricardo, Fábrica de Tijolo (Coprina), Fábrica de Móveis (Jd. Paraíso), Móveis Ateu (Morro São Geraldo), Tamancaria Alicera (São Geraldo), Serraria Nossa Senhora Aparecida (Porto Novo), Fundição Santarém (Porto Novo), Fábrica de Bebidas Teixeirinha, Oficina do Zé do Bonde, Fábrica de Bebidas Realeza, Fábrica de Papel, Laminação de Madeiras, Fábrica de Móveis, Algodoeira, Fábrica de Prego, Fábrica de Saquinho, Fábrica de Sabão, Móveis Piuma, Citran, Ford, Chevrolet, Internacional, Benfica, Woskswagem, Rei dos Pneus, Côrtes Atacadista, Tipografia Casa Cruzeiro, Oficinas da Estrada de Ferro Leopoldina/RFFSA, Fábrica de Tecidos Dona Isabel, Fábrica de Bola (Angustura), Usina de Energia (Banqueta), entre outras.

Revolução de 1930:

Dentre os fatos trágicos da historiedade de Além Paraíba, aquele que maior comoção causou a comunidade, pelo inusitado e surpresa do acontecimentos, foi relativo a explosão de um paiol de munições localizado no centro da cidade. As 15 horas do dia 03 de dezembro de 1930, quando os ecos da guerra civil já se faziam distantes, um ensurrecedor estrondo se ouviu por toda Além Paraíba. Quando as nuvens de poeira e fumaça se baixaram, o prédio que serviu de paiol de munição estava totalmente destruído e também o edifício ao lado, as instalações do Banco Hipotecário, na avenida Marechal Floriano.

Cerca de 50 pessoas perderam a vida, e quase o mesmo número teve ferimentos graves. Um sobrevivente, Álvaro Neves, livrou-se da morte por se encontrar no interior do cofre forte do Banco Hipotecário, que resistiu a queda da laje do edifício. A explosão teve causa atribuída ao trabalho de remoção de armamentos que estava sendo feitas pelas tropas de soldados.

O Aero-clube:

A aviação em Além Paraíba teve vida efêmera, com a rápida extinção do aero-clube localizado na Ilha do Lazareto.

A primeira aterrissagem de um aeroplano na cidade, em 1943 aconteceu em conseqüência de um defeito no motor do veículo e seu pouso a noite, foi ajudado pelos faróis de diversos automóveis que iluminaram a área da aterrissagem. Tal fato parece ter estimulado um grupo de cidadãos que meses depois construíram um lugar e preparam o campo de pouso na Ilha do lazareto, ainda em 1944. O primeiro avião enviado foi o da Companhia Nacional de Aviação, chegou em Além Paraíba no ano de 1945, um modelo conhecido como “João Urupuckana”. O aero-clube funcionou de 1944 a 1953, e nesse período quatro alemparaibanos tiraram “Brevês de Pilotos”: Newtom Perácio, Afrânio Cerqueira, José Gastão Vilela Junqueira e Eduardo Franco (Monego). O fechamento do aero-clube é atribuído por muitos acidentes ocorridos, inclusive o que matou Afrânio Cerqueira, quando ele no comando de um avião paulistinha, se dirigia a cidade de Paraíba do Sul, onde ia ficar noivo.

“Aí está o começo de uma cidade que deverá se tornar uma das maiores do Brasil devido a vontade, honestidade e amor dos pioneiros que para aqui vieram e a tornaram sua amada terra ... ”.

Transcrito por Octacílio Coutinho – 1960

Arquivo da FUNCAP – 1997

Revisto e Rescrito por André Martins Borges – 2001

Fontes Bibliográficas:

Arquivo Histórico do Museu de História e Ciências Naturais;

Fotos do Acervo Fotográfico do Museu de História e Ciências Naturais;

Jornal Agora;

Histórico do Município e Descritivo dos Símbolos Municipais – Câmara Municipal de Além Paraíba – 1992;

Almanack para 1936 do Município de Além Parahyba.

 

 

 

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Teilhard de Chardin

 

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